sábado, 10 de setembro de 2011

Non sense

Em algum lugar do passado encontra-se algo que não me lembro,
Mas não consigo esquecer.
Se perdeu dentro, mas procuro fora
De mim
Sabendo que é impossível achar algo em sítio onde não se perdeu.

Fui a praia com o balde vazio,
Recolhi conchas e pedras com formatos especiais.
O balde ficou cheio e pesado,
Precisei descansar e comecei a observar a individualidade dos grãos de areia.
Olhando-os juntos parecem um bloco sólido,
Coisa única, grande, massa,
Mas cada um tem seus traços, unidade e beleza.
Os grãos me distraíram e descansaram.
Fui embora feliz.

Como vou colocar as roupas de molho?

Quanta ausência

Estou há muito sem postar aqui. Sinto falta de escrever. Lembrei disso, talvez, por estar preferindo um texto livre do que aquele que deveria estar desenvolvendo agora para a pós graduação.
Isso me faz pensar como a vida muda.
Não posso me prolongar, o trabalho para a especialização me espera impaciente para que eu o finalize (ok, inicie!), mas acredito que essas breves palavras sirvam para que eu me reaproxime de algo que me faz bem. E de Janeiro para cá acho que acumulei bastante material para produzir sobre.
Isso não é um diário então paro por aqui, tentando comprometer-me comigo de, apesar da falta de tempo, exercitar um pouco mais algo que me aproxima da paz. (rimou.)

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

É só falar

A Associação Brasileira de Transplante de Orgãos e a Novartis estão organizando um campanha para a divulgação da facilidade de ser um doador de órgãos e tecidos.
Acredito na democratização da informação como forte ferramenta para um estado de saúde pública, portanto considero válido lembrar que aquele que deseja doar órgãos ou tecidos apenas deva avisar seus familiares ou amigos, não há necessidade de nenhum documento.
Em Outubro de 2010 fiz um post maior sobre a temática, caso alguém deseje mais informações sobre o tema.

Eduardo Politzer, sonoplasta fez este vídeo para a campanha:

Quem gostar pode votar para ser o vídeo da campanha!

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Besta sadia

No post "Siga seu coelho" que publiquei em Maio expus meu pensamento de que todos somos malucos.
Iniciei o post com a frase de Caetano Veloso "De perto ninguém é normal". Aliás, neste dia coloquei que não gosto de Caetano, isso mudou. Hoje gosto dele, acho que o tempo lhe fez bem. Talvez tenha feito bem também a mim e a minha percepção do mundo, mas nada disso é o ponto.

Eu não fui a primeira a falar algo sobre a loucura, e a única razão deste post é compartilhar um poema de Fernando Pessoa sobre a temática, destacando aquela que, para mim, é a parte mais interessante.

D. SEBASTIÃO
Rei de Portugal

Louco, sim, louco, porque quis grandeza
Qual a Sorte a não dá.
Não coube em mim minha certeza;
Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há.

Minha loucura, outros que me a tomem
Com o que nela ia.
Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?


Fernando Pessoa

domingo, 19 de dezembro de 2010

Os gritos assustadores chamados silêncio


Vivemos em sociedade. Toda sociedade necessita de sinais, signos, significantes para que as pessoas possam interagir umas com as outras. Tudo aquilo que sabemos sem saber como nem por que constituem (de maneira tanto quanto simplificada) o senso comum.

Ontem estava com uma amiga e passou por nós um mulherão, corpo super malhado, vestido justo e curto, salto alto e cabelos compridos. Eu afirmei prá ela: "Nossa! Que mulher gostosa!", e ela riu. Logo em seguida iniciamos um diálogo sobre como era engraçado o fato de eu ter dito que aquela mulher era "gostosa", bem como quando me refiro a um homem como "gostosão", já que nem aquela mulher nem os homens que recebem o título de gostosos são, dentro da minha percepção do que seria a gostosura, gostosos.
Não me sinto atraída pelos corpos muito malhados, mas, diante de uma pessoa assim não páro para refletir o que é, na minha concepção, um gostoso. Simplesmente afirmo aquilo que será compreendido para designar alguém como algo. Isso é o senso comum, ou melhor, é usar dele para se fazer entender. Aquela mulher pode não ser gostosa aos meus, mas, aos olhos da sociedade ela é.
O engraçado é que a "sociedade" que me ouvia naquele momento era alguém que compartilha do meu conceito de gostosisse...

Não quero ser mal compreendida aqui. Não existem apenas duas opções: ou se vê a mulher como gostosa e faz-se parte de um grande saco chamado sociedade, ou então não a julga como atraente e compõem-se o lado B. Claro que não. É possível fazer parte dos dois grupos, os que gostam e os que não gostam daquele corpo, é possível também não fazer parte de nenhum dos dois grupos, e ainda é possível ser parte de um terceiro, de um quarto, e até de um décimo grupo. A minha intenção ao reduzir é simplesmente facilitar a exposição do meu ponto. Assim como reduzo a apenas o gosto por corpos um assunto que envolve simplesmente (?) tudo que existe no mundo. Não quero ser simplista, apenas quero tornar possível a execução deste texto.

O senso comum é muito útil, como marcaríamos um encontro em determinados local e horário se cada um compreendesse as palavras a sua maneira? Te encontro na praça as 09:00. João estaria as 09:00 na praça e Maria estaria escovando os dentes embaixo da pia a qualquer hora. Não seria possível viver assim.
Todavia, apesar de útil, ele também aprisiona e nos torna intolerantes e prepotentes. O diferente passa a ser algo com uma conotação pejorativa com uma facilidade absurda. O exercício de refletir sobre seus conceitos próprios pode tornar-se algo raramente executado, fazendo de nós meramente reprodutores da massa.
Usar do senso comum como ferramenta de comunicação, de participação, é algo válido e importante para estarmos no planeta, mas, usar dele para ver/sentir/perceber/viver o mundo é ruim, pois faz com que não apenas esteja-se nele, mas, também, que se seja dele. Não há neste caso nem uma parte de liberdade, e assim acabamos cárceres. Nem a nossa percepção é nossa.

Estar no mundo sem ser dele.

Caso entre na casa de alguém que use baldes como luminárias, alguém muito apegado aos valores da sociedade poderá instantaneamente taxar aquilo como feio, incompreensível e quem fez aquilo como louco ou algo do gênero, afinal, este não é o uso dos baldes, eles não foram desenvolvidos para isso.
Já o dono da luminária (ou seria do balde?) pôde usar aquele balde daquela maneira por conseguir compreender que os padrões comuns são simplesmente os padrões comuns e nada além. Por pensar que o balde diminuía o forte brilho irradiado pela lâmpada e dava um colorido bonito ao ambiente quando a luz passava pelo plástico rosa. Por que dentro do conceito dele de bonito aquele balde no teto de sua sala era de fato belo. Que a ele pouco importa se o resto do mundo o acha louco por aquela atitude, talvez loucos sejam aqueles que optem por viver em uma prisão quando podem ser adeptos da liberdade. E se acham o seu balde feio, mal aplicado ou qualquer coisa de negativa, tudo bem, esta é a percepção alheia, e a casa é sua, logo, deve estar do seu gosto. Com certeza outros "loucos" escutam os gritos assustadores do silêncio como ele e considerariam o balde algo "muito bacana", "bonito", talvez até "genial".
O visitante que ao invés de se preocupar em julgar o balde resolver observá-lo poderá até sair dali para reproduzir o mesmo em sua casa.

Estar no mundo sem ser dele. Escutar os gritos que compõem o silêncio e não se angustiar pelo fato de que nem todos ouvem. Compreender que as pessoas tem suas percepções, suas opiniões, e que estas devem ser respeitadas (inclusive pelas próprias). Este respeito inicia-se quando aceita-se que seus olhos não são os olhos do mundo, e que não há nada de errado nisso, ainda que o mundo tente convencer-te do contrário.

Estar no mundo, sim, mas nunca ser dele.

Sexual Healing




Após ter lembrado da importância do sexo seguro e dos malefícios da prática sexual desprotegida, agora vale a pena falar sobre os benefícios da atividade sexual!

O vídeo é da música que serve de título a este post. Apesar de adorar a versão original e clássica da música (do Marvin Gaye), acho que Ben Harper mandou muito bem nesta que fez!

Sexual Healing, é, em tradução livre, cura sexual. Não sei se o sexo poderia curar algo, mas prevenir pode! Um monte de coisas!

Vamos começar do começo. A prática sexual e seu impacto na saúde do homem tem sido investigados, algumas das conclusões oferecem bastante base científica, outras, nem tanto. Mas o interesse no sexo e na sexualidade existe desde que o mundo é mundo, e provavelmente continuará existindo até quando ele deixar de ser.

Como qualquer atividade física, atividade de liberação hormonal, o sexo, para ser benéfico envolve sua prática com periodicidade regular. Bem como a caminhada, deve ser praticado mais ou menos 4 vezes por semana para garantir suas "benções", então, no intuito de manter a saúde do corpo (e a do casamento) nada de extinguir tal prática com o decorrer dos anos de uma relação!

O sexo melhora a pele e o cabelo, além disso, na mulher, pode diminuir os incômodos decorrentes da menstruação (como as cólicas e a TPM). Outra função importante é o fato de ajudar no controle da incontinência urinária.
"Relaxa e goza!", ou goza e relaxa? O sexo melhora o sono e reduz a ansiedade e a depressão, somado a isso, é útil no controle da pressão arterial.
Relaxa e tonifica os músculos, auxilia no emagrecimento e pode ser um bom treinamento para o condicionamento cardio-pulmonar (que lota as aulas de spinning mundo a fora).
Reduz o colesterol e serve como ajuda ao melhor funcionamento do intestino. (enfezada? relaxe e...)
Fortalece nosso sistema imune servindo portanto de ajuda no combate a gripes, resfriados e outras viroses.
No homem, previne o câncer de próstata e auxilia no tratamento da ejaculação precoce.

Além disso, faz bem a "alma", quando feito com carinho, amor, respeito e amizade estreita vínculos, permite intimidade e sentimentos únicos.

Sexo, como tudo na vida, tem consequências. Estas variam desde a benção da mater(pater)nidade até o fardo da AIDS, portanto, sexo seguro, ou nenhum sexo!

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Bombing for peace...



Estamos já há alguns anos em guerra civil. Recentemente essa guerra se escancarou. Toda guerra envolve em algum grau a disputa pelo poder, a maior parte (se não a totalidade) dos confrontos possui uma motivação econômica. Questões sociais costumam fazer parte da complexidade de uma guerra civil.

Como já expus aqui em 07/04, no post "Após os temporais": A crise é o momento que permite que tudo mude. As reflexões e os diálogos que estes momentos nos proporcionam, se soubermos aproveitá-los, podem ser o primeiro passo para as mudanças. Mesmo dentro de todo o meu otimismo e olhar um tanto quanto "Pollyana" sobre a vida confesso que tenho dúvidas se estamos caminhando para um futuro melhor. A verdade é que eu fiquei muito assustada com isso tudo, inicialmente com os barulhos de helicópteros, sirenes, tiros, granadas e companhia limitada, mas quando passou o susto inicial mudou o fator desencadeador do meu medo. Agora eu estou aterrorizada com a população do Rio de Janeiro. Como as pessoas são fascistas! Eu não sei se este termo está sendo bem aplicado neste contexto, mas foi o melhor que eu consegui para me expressar. A quantidade de comentários cruéis que eu escutei nos últimos dias não está no gibi. E o pior é que as pessoas não conseguem nem perceber que o discurso delas defende a utilização dos meios que elas mesmas criticam para acabar a fonte desse meio. Basicamente o que as pessoas dizem é: "Bom, eu preciso acabar com essa violência... tenho que acabar com esse problema... hum! Já sei! Vamos matar todos os "caras maus" e vai ficar tudo bem!"
Não!
Além de hipócrita isso é de um simplismo absurdo. Trata um complexo problema social que congrega em suas raízes razões das mais distintas fontes, reduzindo-o as suas consequências, ao invés de enxergá-lo pelas suas diversas causas para tentar abordá-las e assim contribuir para reais mudanças. Mudanças estruturais.
Soma-se a isso o fato de que todo o cidadão tem direito a vida e que esta deve ser respeitada. É incrível, vivemos em um país que não tem na sua constituição o absurdo que é a pena de morte mas as pessoas acreditam que podem decidir sobre a existência ou não de outros seres humanos, que podem dar um fim a vida alheia. Acho uma grande ironia (no mínimo) essas formas de pensamento serem tão difundidas naquele que é um dos maiores países católicos do mundo...

Nos últimos dias a imagem daquela menina americana com aquele cartaz que dizia: "Bombing for peace is like fucking for virginity" tem vindo muito a minha mente.

A tirinha aí de cima é do André Dahmer, de uma forma espirituosa e curta ele conseguiu expressar o que eu tive dificuldades para expor de forma "marrom" usando incontáveis palavras a mais. Por isso que é bom poder citar o outro!

O endereço do site das tirinhas dele é: www.malvados.com.br
Vale a pena, bom humor e traços bacanas.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Animação 3D - Use camisinha - AIDS



Seguindo o clima do post anterior, videozinho criativo para fortalecer a idéia da prevenção.

Talvez não deva ser visualizado por crianças.

Safe sex or no sex


Apesar de a maior matéria da capa do Globo de hoje ser sobre as grandes possibilidades do Fluminense ser o campeão deste Brasileiro, o que mais me chamou atenção como botafoguense e estudante da saúde, foi a notícia de que o papa afirmou que o uso da camisinha é aceitável em certas situações.

No blog Balaio do Kotcho há um texto no qual o autor questiona o efeito prático de tanto barulho feito em torno da manifestação papal acerca do uso do preservativo.

Particularmente vejo isso como um avanço benéfico para o mundo. Apesar da Igreja Católica não ter mais a força que um dia teve, tal afirmação iniciou debates sobre este importante tema ao redor do mundo. Nas Filipinas, país mais católico da Ásia, o comentário foi visto como um avanço pelos governantes. Em Montevidéo também, assim como em diversos outros lugares do planeta. E, convenhamos, finalmente parece que os olhos estão se abrindo para uma realidade.

Quando o papa faz uma afirmação como esta, abre a possibilidade de avanço em importante questão de saúde pública. Até pouco tempo atrás a Igreja afirmava que o vírus da AIDS poderia passar pela camisinha, que ela era permeável a ele, e teve muita gente achando que isso era verdade. Isso era um enorme desserviço a população mundial.

Soma-se a isso o fato de ele incluir as prostitutas no seu discurso, vendo como benéfico o uso do condom por elas, em uma atitude de humanização da igreja, no sentido de perceber os outros e suas escolhas, respeitá-las, e querer o seu bem. Isso é respeito e amor ao próximo saindo da pregação e passando para a atitude.

Não sou católica, mas percebo o impacto que a Igreja ainda tem no mundo. Mas, ainda que não houvesse impacto direto sobre a população, esse tipo de declaração permite o diálogo, abre para o debate, coloca esta importante questão em voga. E isso é muito válido, principalmente quando falamos de uma pandemia.

Aqueles que querem evitar filhos tem algumas formas para este fim, mas quem quer evitar contaminar-se tem apenas duas: o uso da camisinha ou a abstinência sexual. Atualmente me parece que a maioria da população em idade reprodutiva não se priva de sexo e nem o posterga, então é importante que se protejam.

Não tenho a intenção de discutir valores, hábitos ou as escolhas de cada um, apenas acredito que tais escolhas não podem ser prejudiciais.

Para os sexualmente ativos a camisinha é a única forma de prevenção das DSTs, das quais destaco a AIDS, por não ter cura, apenas controle, a hepatite B por não haver forma de combate direto ao agente da doença, e o HPV por estar diretamente ligado ao câncer de colo. De qualquer forma, independente da cura, acho que "ninguém merece" uma gonorréia ou uma sífilis! Aliás, gonorréia... o nome por si só é nojento!

Para os católicos, cristãos, judeus, agnósticos, muçulmanos, protestantes e todos os demais: cubram o menino! Fica a dica!
E aproveitemos a brecha aberta pelo papa para iniciarmos mais debates, diálogos e sermos agentes da conscientização.

O uso de preservativo é um ato de amor e respeito consigo e com o parceiro.
Para evitar que o momento da colocação corte o clima, basta treinar como colocar e fazer com que isso seja parte da brincadeira. Colocar a camisinha pode ser sensual, basta treinar e deixar a criatividade fluir. Além disso, hoje existem milhões de tipos de preservativos: mini, maxi, com sabor, com textura, colorida, que brilha no escuro, e por aí vai! Não importa o tipo, o que importa é usar.

Vale lembrar: a camisinha deve ser usada durante todo o ato sexual, e em qualquer forma de relação (anal, oral, vaginal e outras que existam que por acaso eu desconheça!) só pode ser utilizada uma única vez, e deve-se sempre estar atento ao prazo de validade. Além disso, cuidado ao abrir o pacotinho na hora da empolgação para não rasgar... Melhor evitar abrir com a boca.

Vistam os meninos! Cubram as cabeças!

PS:. Parabéns pro meu papai que faz anos hoje, tudo de mais maravilhoso do mundo para ele, pessoa que eu tanto amo! E ainda bem que ele não usou camisinha 9 meses antes do 4/12/85, se não eu não tava aqui! =D

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

All you need is love

Estou fazendo o final do meu internato na enfermaria pediátrica do Hospital Federal de Bonsucesso.

Lá pude aprender, dentre outras coisas, como muitas vezes as internações são mais sociais do que por motivos de doença.

Temos uma paciente de 10 anos internada por razões patogênicas sim (aliás, um caso um tanto quanto complicado), mas, que também tem fortes questões sociais. Essa menina parece ter sofrido maus tratos pelo pai, não faço a menor idéia do que acontece com a sua mãe, o que sei é que ela, com seus 10 anos de idade, recebe apenas visitas esporádicas de sua avó. Para quem não sabe, crianças tem sempre direito a acompanhantes em suas internações, não estão restritas a visitas, podem ter sempre um familiar com elas.

Nunca tive uma paciente tão carinhosa. Não tenho muita prática, não tenho muita experiência, mas, dentro do pouco que vivi, essa fofa se destaca sem dúvidas. Quando chego para examiná-la, ela (que não fala mas interage bem com o examinador), faz uma festa! Me puxa, me abraça, me beija, e, as vezes, pede para que eu coce suas costas. Adora que eu pegue o hidratante e passe nela, ou que dê para que ela passe. Tem um reloginho de pulso roxo que ela adora usar, e gosta também de colorir. E sempre quando eu tenho que deixá-la para seguir com minhas obrigações parte-se um pedaço do meu coraçãozãozinho, pois ela nunca quer que eu vá.

Essa menina me mostra a cada dia a importância do amor. De receber, sem dúvida, mas, principalmente, de dar. A importância das relações, do carinho e do respeito. A importância de um atendimento humanizado e individualizado para um prognóstico positivo das doenças. E, mais do que isso, como devemos tratar todos bem, com respeito, com leveza, com educação, aquela história que a Igreja prega de "amor ao próximo". E olha que da última vez que eu chequei eu era uma pessoa agnóstica.
Sem dúvida esta mocinha com o amor que vem recebendo da equipe que a acompanha, vem apresentando consideráveis melhoras. E com o amor que vem distribuindo por lá ela vai tocando diversas pessoas, bem como meu tocou, de diversas formas distintas, conferindo a estas um novo ponto de vista, uma nova direção no caminho para a evolução ou qualquer coisa parecida que as pessoas busquem em suas existências.
Preciso aqui destacar e elogiar a equipe de enfermagem da pediatria do HGB. Elas são as pessoas que mais acompanham e, com maior proximidade, os pacientes internados. Atendem com muito carinho aquelas crianças, e nesses "casos sociais" que lotam aquele lugar, são elas quem compram xampú, sabonete, hidratante, etc, para a higiene dessas crianças.
Tem também voluntários que fazem visitas e levam presentes, além dos doutores da alegria, que são palhaços que vão a enfermaria para fazer espetáculos e contar histórias para as crianças.

É muito triste ver alguém tão jovem, tão despreparado, tão indefeso, tão inocente sem o seu porto-seguro principal (a família) para ofertar estabilidade em qualquer momento da vida, em especial nos momentos difíceis como são as internações. Mas, como costumo fazer com tudo na vida, tento focar no lado bom e notar como, se a gente souber olhar, até mesmo num lixão uma flor pode nascer.

Eu também dou um plantão as quartas feiras, como acadêmica (lógico), num pronto-socorro infantil do SUS em São Gonçalo. Ontem eu atendi um menino institucionalizado, a mãe dele morreu de câncer, o pai mora no Espírito Santo e ele não conhece. Ele me disse que a coisa boa que tinha na vida dele era que a avó dele em breve iria adotá-lo.

Para essas, e todas as crianças eu desejo tudo de bom do mundo, que tudo corra bem, que o amor que algumas pessoas ofertam a elas possa permitir a recuperação, a abertura de portas, e uma vida próspera, longa e boa.
Para os adultos que as cercam eu deixo a mensagem que a música dos Beatles enfatiza bem: All you need is love. E desejo que as pessoas possam ter a clareza da importância e do impacto que suas atitudes tem.

Com muito amor,
Valentina

PS:. O título é link para um vídeo bom dos Beatles de All You Need Is Love