domingo, 2 de maio de 2010

Siga o seu coelho.

"De perto ninguém é normal." - Caetano Veloso, Vaca Profana

Não gosto muito de Caê! (Pronto. Começo logo dando uma razão para meio mundo me chamar de ignorante para baixo.) Valorizo o trabalho do homem, claro, mas não sou uma grande admiradora de sua obra, tampouco (muito menos seria mais bem aplicado) de sua pessoa. Mas dentre tantas coisas que ele já disse, essa frase da música Vaca Profana, é das mais inteligentes já proferidas pelo indivíduo em questão.

De perto ninguém, ninguém! é normal. Claro que existem aqueles que de longe já demonstram seu "anormalismo". Normal, normal...

Se ninguém é normal, quer seja de perto, quer seja de longe, podemos concluir que o normal, anormal é, e o anormal deve, portanto, ser normalíssimo.

Aqueles que, como eu, questionam sua lucidez frequentemente, encontram nessas palavras alguma paz. De perto ninguém é normal, nem eu.

A percepção do ser como único e individual vai de encontro com essa frase.
Por exemplo, a temperatura de 37ºC, nem considerada febre pelos médicos, é capaz de deixar o meu avô delirando. Isso é dele, e não adianta buscar tal conhecimento em livro algum, pois para ter o saber das partcularidades de cada um deve-se ter conhecimento prático com os indivíduos. De perto, não há padrão. Quando o conhecimento sobre o outro migra da superfície para as profundezas do ser percebemos: É muito difícil tentar desvendar alguém a partir do padrão estabelecido tendo como base uma massa.

O que é uma doença? Uma doença é um conjunto de sinais e sintomas oriundos de uma alteração da homeostasia. Então, basicamente, ao longo dos anos médicos foram juntando alterações comuns em indivíduos distintos, aglomerando-as e catalogando-as para poder dar um nome e um tratamento.

Hoje em dia as doenças da moda (e os remédios da moda) são as psiquiátricas.
Terminou um namoro com alguém que amava verdadeiramente e não quer sair da cama? Deve ser depressão! Foi demitido e não sabe como vai sustentar seus filhos? Talvez uma fluoxetina ajude você a seguir em frente...
NOT!
Sofrer é normal. Ou seria anormal? Enfim, experimentar sentimentos nem tão agradáveis, e por vezes completamente desagradáveis, faz parte dessa longa jornada que é a vida (bregão!). Isso facilita a compreenssão das coisas, e, consequentemente, de nós mesmos. E assim permite que nós consigamos seguir em frente, e no futuro lidemos melhor com os eventos indesejados que surgirão. Sim, eles continuarão surgindo sempre!

A excessiva veiculação na mídia das doenças psiquiátricas unida a ausência de interesses legítimos dos médicos, veio como um grande disserviço a população mundial do século XXI.
Com diagnóstico extremamente subjetivo e seus nomes na boca do povo, as doenças psquiátricas acabaram sendo banalizadas e levaram consigo suas drogas para a banalização.

Talvez, se Lewis Carroll vivesse hoje e contasse a um médico as diversas coisas que se passavam em sua mente, teria sido medicado, dopado, adormecido, e exerceria uma profissão qualquer ao invés de canalizar a sua "loucura" para o papel e produzir obras que ficariam como herança para a humanidade.

Aliás, Lewis Carroll foi um exemplo, mas poderia citar ainda, Salvador Dali, Picasso, Einstein, dentre muitos. Dizem que a linha que separa a genialidade da loucura é muito fina. Talvez em alguns casos a diferença não seja necessariamente o lado da linha que se está, mas sim o que se faz neste lugar.

Não quero aqui desmerecer as doenças psiquiátricas e tampouco seus tratamentos. Quero apenas lembrar que cada caso é um caso, e que devido a individualidade de cada um, merecem atenção e tratamento personalizados e não protocolados.

A filosofia clínica, ramo da filosofia que descobri recentemente, fala (dentre várias coisas, obviamente) que as pessoas tem formas distintas de expressar suas emoções. Pode ser falando, pintando, desenhando, compondo, cozinhando, e a lista continua. Concordo. E acho um máximo alguém ter descrito tal percepção.

Tanto esta percepção quanto a frase de Caê são totalmente óbvias. Mas as coisas óbvias, muitas vezes, ficam de lado, não recebem atenção, e portanto, quando ditas, se tornam grandes sacadas!

"Common sense is the least common of all the senses"

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