quarta-feira, 9 de junho de 2010

Pena


De acordo com o "Seu Houaiss", pena é:
1 - sanção aplicada como punição ou como reparação por uma ação julgada repreensível; castigo, condenação, penitência.
1.1 - JUR sanção prevista pelo legislador e aplicada pelos órgãos jurídicos competentes
2 - profundo sofrimento; aflição
3 - sentimento de pena com relação a alguém, a si mesmo ou alguma coisa; compaixão, dó
4 - desgosto recolhido cujas marcas transparecem no semblante, nas palavras; tristeza, amargura, pesar
...
Além de um monte de outras coisas, inclusive aquelas estruturas ceratinizadas que revestem o corpo de uma ave. =D

Duas folhas prá frente e o seu Houaiss me define penitenciária:
JUR estabelecimento em que, sob sistema penitenciário, recolhem-se as pessoas condenadas a penas de privação de liberdade, para que ali as cumpram.

A etimologia da palavra esclarece mais um pouco, penitenciária vem de penitência + ária. Penitência é remorso, arrependimento por um erro que se cometeu. O sufixo -ária, de uma maneira simplificada, está relacionado com lugar, logo, penitenciária pode ser entendido como o local onde se vive o arrependimento do erro cometido.

Não sou uma profunda conhecedora do nosso sistema penitenciário. Mal sou superficial conhecedora dele, na verdade. Mas me peguei pensando sobre as "coincidências" (não sei se acredito em coincidências) da pena. Pena é a punição que alguém recebe por ter tido uma conduta fora dos padrões estabelecidos pela ordem local. E ao mesmo tempo é aquele sentimento que dói no coração e na barriga de quem sente, na minha opinião um dos piores de sentir. Acho-o tão ruim que evito ao máximo experimentá-lo, se é que é possível se evitar um sentimento, mas, que me preenche toda vez que reflito a cerca das prisões nacionais.

Sinto pena de quem está na prisão cumprindo pena.

Sou romântica e otimista, mas sei que não posso afirmar que todos os cárceres são vítimas da sociedade, da realidade, da conjuntura.

Tenho fé nas pessoas, acredito na educação, e sei que, ao contrário do que muitos afirmam, as pessoas mudam. Estar vivo é estar em movimento. Penso também que nunca é tarde para mudar ou começar algo, tarde demais talvez seja simplesmente um momento que não se deseja viver.

Muitas pessoas cometem delitos por falta de educação. Sem educação dificilmente haverá oportunidades boas de carreira para seguir. Além disso, a auto estima baixa que a ausência do estudo pode conferir a alguém afasta o pensamento de capacidade. Soma-se a isso a ignorância, o desconhecimento de que existem muitos caminhos. Seres humanos vivem em contextos, seus contextos são a sua realidade.

As condições em uma cadeia são horríveis. Desumanas. Além do que, ser privado de sua liberdade é, na minha opinião, uma das piores coisas que se pode experimentar. Estar preso é, de certa forma, morrer. Uma morte social. E como toda morte, é eterna, afinal, o sistema penitenciária não oferece mecanismos viáveis e funcionais de reinserção dos indivíduos na sociedade.

O assunto é extremamente complicado, por isso muito difícil de disertar sobre, todavia minha pretensão aqui não é dar soluções simples de curto prazo, mas sim atentar para a importância das reflexões, dos diálogos a cerca do tema, para que as ações possam começar a surgir.

Acredito que uma instituição de pena para adultos deveria prover condições de VIDA - friso, VIDA e não sobrevivência - dignas e humanas. Além disso, seria de grande utilidade a existência de cursos técnicos profissionalizantes, ferramentas passíveis de uso para quando o preso retornar a liberdade, necessitando recomeçar sua vida.
Oficinas de vídeo, produção de texto, culinária, dentre outras, com profissionais das áreas seria uma forma de lazer que serviria para elevar a auto estima e a percepção de que existem outros caminhos. Digamos, por exemplo, que um preso nunca escreveu uma crônica. Aliás, ele nunca sequer leu uma. Mas ele não perde um jogo de futebol do seu time do coração, ou melhor, não perdia.
Na prisão ele frequenta a oficina da palavra, além de aulas de português, literatura, e técnicas de texto, cronistas bem sucedidos são convidados para ministrar algumas palestras.
Esse cárcere vai descobrir a existência de João Saldanha, por exemplo, vai ler os textos dele, e vai produzir as suas próprias crônicas de futebol com os jogos e experiência que estão na sua memória.
Não, ele não precisa sair dali e virar um cronista. Mas ele vai descobrir algumas coisas: pode-se viver de escrever. Leitura pode ser agradável, e pode ser sobre qualquer coisa, e, talvez o mais importante, ele tem capacidade de escrever.
Ao perceber que ele pode fazer algo que anteriormente nunca pensou talvez perceba que é hábil para fazer o que quiser, e que existe mais um monte de coisas que ele também nunca pensou. Isso eleva a percepção de si mesmo.
Soma-se a isso o fato de que, para produzir seus textos estará revivendo seus momentos alegres com sua paixão do lado de fora, isso faz bem.

Não, não acho que é simples assim. Sei que "o buraco é mais embaixo", que existem diversas questões dentro da temática.

Os reacionários de plantão diriam logo que eu idealizo uma prisão na qual é bom estar. Que preso tem mais é que se dar mal. Bandido bom é bandido morto. Que o cara é um safado e eu querendo que ele aprenda a escrever crônicas... e por aí vai. Aos que seguem mais ou menos essa linha de raciocínio deixo Cecília Meireles falar por mim:

"...Liberdade, essa palavra
que o sonho humano alimenta
que não há ninguém que explique
e ninguém que não entenda..."

Um comentário:

  1. Nossa, Valê, fiquei até emcionada, concordo em gênero, número e grau! Minha irmã já tinha me passado o link do seu blog, mas só hoje consegui entrar, parabéns! Já tá no meu Google Reader! Bjs, Lua

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